04/07/2012 21h00 - Atualizado em
17/03/2021 10h09
Edifício das Repartições Públicas completa 50 anos preservando sua história
Em 05 de Julho de 1962, era inaugurado no Espírito Santo o mais imponente arranha-céu com características da arquitetura modernista já construído em Vitória até então. Considerado à época o mais alto do Estado (com nove andares), o Edifício das Repartições Públicas, como é popularmente conhecido, completa hoje meio século de existência, mantendo viva parte da história política, administrativa e econômica do Governo capixaba. Projetado pelo arquiteto cachoeirense Ary Garcia Roza (1911-1999), o prédio apresentava características peculiares para seu tempo e, rapidamente, virou referência para a concepção de novas construções verticais na Região Metropolitana. Segundo relatos de historiadores, o edifício marcou uma nova era no processo de desenvolvimento do Centro de Vitória, exatamente por sua audácia, originalidade plástica, junção de concreto e vidro, além de elegantes colunas de mármore branco. Podemos dizer que naquela época estávamos diante de um novo ponto turístico na cidade porque era uma grande novidade para a população. Para os padrões da década de 60, era um prédio que chamava atenção pela altura e arrojo e sua inauguração virou um acontecimento de grande importância, contou a subsecretária de Movimentos Sociais da Casa Civil e professora de História, Leonor Araújo. Posteriormente, o Edifício das Repartições Públicas foi batizado oficialmente de Aureliano Hoffman, em homenagem ao servidor que ocupou a Controladoria Geral do Governo até os anos 80 do século passado. Considerado exemplar funcionário público e cumpridor exímio de suas tarefas, ganhou destaque por sua contribuição ao Estado nos anos em que trabalhou para o executivo. Na ponta do lápis, com o auxílio luxuoso de outro servidor exemplar, Áureo Antunes, ele montava com precisão a folha de pagamentos do Governo do Estado, na época. A arte sob o olhar do pintor Roberto Burle Marx também está presente no interior do empreendimento. Preservado no hall de entrada, o painel de 8m x 3m, retrata as visões do Eismo e Cubismo que influenciaram o artista. A pintura, considerada rara, é interpretada até mesmo como símbolo da inserção do Espírito Santo na era moderna. O Mural é a única marca deixada no Estado pelo paisagista e pintor, de renome internacional. Por sua importância, foi restaurada e tombada como patrimônio cultural do Estado ainda na década de 80. Hoje, continua repousando sobre a mesma parede de concreto, recepcionando, diariamente, centenas de servidores e visitantes, e impondo a mesma expressão histórica de décadas passadas. Construção Foi a partir dos anos 50 que o Estado começou a se abrir para novos conceitos de construção. Foi quando de fato Vitória começou sua jornada de verticalização. A partir daí, vários empreendimentos passaram a ser arquitetados sob olhares mais modernos, como analisa a subsecretária Leonor Araújo. Quando começou a ser construído em 1951 - estrategicamente a poucos metros do Palácio Anchieta, a intenção do então governador Jones dos Santos Neves era centralizar boa parte dos órgãos públicos em um só ambiente. Mais tarde, o prédio abrigaria importantes órgãos, como as Secretarias de Obras e da Fazenda, e os Tribunais de Contas e Regional Eleitoral (TRE). Jones queria dotar o Estado de infraestrutura seguindo o que, de maneira geral, já acontecia em boa parte do país. Já tínhamos aqui a perspectiva de grandes projetos industriais e isso naturalmente se refletiu na arquitetura das nossas construções. A partir daí os prédios que começaram a ser construídos são mais modernos, passam a ser de concreto armado, ter elevadores, e vidros. É o caso do Aureliano Hoffman. Inauguração A inauguração do edifício, no entanto, se dá 11 anos após o início das obras, já no governo Carlos Lindenberg. De acordo com o historiador Fernando Achiamé, foram registrados problemas estruturais no decorrer dos trabalhos, o que comprometeu sua conclusão em tempo menor. O projeto teve início efetivamente em 51. Só que houve um encarecimento das obras por conta de problemas nas fundações do prédio. Isso exigiu algumas adequações e, diante desse imprevisto, os serviços somente foram concluídos em 1962, explicou. Naquela ocasião, o país já era comandado pelo presidente Jânio Quadros. Vitória, por sua vez, tinha como prefeito o distinto escritor Adelpho Poli Monjardim, filho do Barão de Monjardim, e membro de uma das famílias mais tradicionais do Estado. E foi no período em que ganhou o mais importante edifício do Centro da Capital, que passava por relevantes mudanças. O desenvolvimento notado na construção civil chegara, também, à mobilidade urbana. Quando o Aureliano Hoffman foi entregue em 62, já observávamos uma transformação também na mobilidade do Centro. Temos como exemplo os bondes elétricos que circulavam por aqui e que começaram a dividir espaço com os carros conforme iam ganhando as ruas. Tudo acontecia no Centro. Grande parte das pessoas que frequentava essa região era composta de funcionários públicos do Governo. Elas presenciaram essa mudança e fazem parte dessa história, reitera Leonor. História de servidor As histórias pessoais de quem trabalhou no arranha-céu também estão preservadas, como lembra o ex-subsecretário da Receita, hoje aposentado, Luiz Menegatti. Com saudades assumidas da década de 70 - quando chegou à Sefaz por meio de concurso, ele revela que o prédio também era ponto de encontro para a prosa dos funcionários. Evidentemente temos saudades daquele tempo em que podíamos estacionar na Jerônimo Monteiro. E se chegássemos cedo, por volta das 7h30, a turma já estava toda reunida tricotando no térreo. Ali tinha um bar que era ponto de encontro para as fofocas e cujo cafezinho era horrível. Lá ficávamos até às 8 horas, por que depois desse horário todo mundo já estava trabalhando. Meneguatti também fala do contraponto à arquitetura diferenciada e nova que viu surgir com o prédio. Somente existiam máquinas de escrever manuais, máquinas de somar manuais e os ventiladores eram disputados a tapas. E o serviço de apuração da receita era efetuado manualmente, quando eram conferidas todas as Guias de Recolhimento. E conta ainda um fato curioso que presenciou. Teve uma autuação ocorrida em Guarapari, quando o fiscal lavrou Auto de Infração por transporte de uma mudança sem nota fiscal. Só que depois, no histórico do Auto, pelo que me lembro, constava mais ou menos o seguinte: (...) por está transportando sem nota fiscal uma mudansa contendo um guarda ropa, uma cama, um fugão, seti galinhas e uma muié, brinca. Temos uma estrutura que representa o funcionalismo público capixaba. É um prédio que inaugura um novo tipo de arquitetura, que reflete a modernidade do Espírito Santo em consonância com o Governo Federal, marcando uma época de alinhamento do nosso Estado com Brasília. E é construído na mesma ocasião em que os investimentos externos e na área portuária estão começando a chegar, finaliza a Leonor. Atualmente, o Edifício das Repartições Públicas abriga somente a Secretaria da Fazenda. Localizado na Avenida Jerônimo Monteiro, é local de trabalho de servidores responsáveis por garantir ao Estado o permanentemente equilíbrio entre as receitas e as despesas públicas, mantendo a transparência do gasto estatal. Informações à Imprensa: Assessoria de Comunicação/Sefaz Maíra Piccin - 9746-9479 (27) - 3636-3877 / 3636-3874 Max Torezani - 9774-6543 (27) - 3636-3877 / 3636-3874 E-mail: comunicacao@sefaz.es.gov.br Texto: Max Torezani Colaboraram: Jória Scolforo - Assessora de Imprensa do Arquivo Público do ES e Carlos Henrique Gobbi - Editor do Portal do Governo do Estado.